Professor de redação não é revisor - Hélio Consolaro


(Continuação)

Jovem corrige carta de despedida da ex como se fosse redação e dá nota D  (está em inglês, mas  é uma correção resolutiva)

O revisor atua em editoras, revistas e jornais. Ele não está preocupado com o processo ensino-aprendizagem, seu objetivo é melhorar aquele texto, por isso faz intervenções, às vezes, drásticas. Essa não é a função do professor ao ler o texto de um aluno, pois sua preocupação é ensinar, conversar com o aluno, melhorar a sua redação.

O aluno de nível universitário faz sua dissertação de final de curso, na graduação, mestrado ou doutorado. A pesquisa é feita sob a orientação de um professor. Quando este professor lê o texto final, aponta as imperfeições dele, pede que o próprio aluno faça a correção. Se houver muitos erros de português, o orientando procura um revisor.

 Já participei de equipes de correção de redação de vestibulares. É uma situação de exame, não é uma avaliação diagnóstica. O aluno está apto ou não adentrar à universidade. Enquanto eu avaliava cinco redações, outros professores, apenas duas, porque apontavam em vermelho todos os erros cometidos, como se o aluno fosse ter acesso àquela correção. Faziam uma avaliação resolutiva, quando ela era classificatória. 

Meio abelhudo, eu dizia que tal procedimento era inútil. A faculdade queria apenas a nota. Depois de algum tempo, aqueles maços enormes de textos seriam reciclados. O vestibulando não teria acesso à correção. E alguns professores me respondiam que não conseguiam avaliar um texto se não tivessem à mão uma caneta vermelha.   

Tudo isso acontece, porque, na tradição escolar, corrigir é colocar certo ou errado nas questões, apontar erros gramaticais, em síntese, encher a prova ou o texto do aluno de rabiscos vermelhos. E descontar tudo isso na nota.

Atualmente, recomenda-se que professores de outras disciplinas levem em consideração na avaliação de sua matéria a variável formal da língua portuguesa, porque isso não é tarefa exclusiva do professor de Português. Quando se fala isso, o professor de História, de Geografia ou de qualquer outra disciplina estrila, dizendo que é injusto descontar nota do aluno por causa de erros de português em suas provas. 

Tal resposta demonstra a estreiteza de tais professores em sua visão pedagógica, pois confundem medir com avaliar e consideram que avaliar seja punir. Pede-se que o professor de outra disciplina aponte o erro, converse com o aluno sobre o erro de português, estabeleça uma comunicação de educador com ele, não é para diminuir a sua nota. A relação aluno-professor não pode ser burocratizada.  

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